Assim como vários povos indígenas na América do Sul, os mundos e tudo que neles existem estão relacionados e são permeados por seres, lugares e elementos cósmicos.
De acordo com os Noke Ko’ís, o local de origem de seu povo era um buraco sagrado conhecido como “Maroke”, coberto por um véu de teia de aranha, onde existia a primeira maloca. Segundo a crença, Koka Pnotxari, o Deus criador foi responsável por retirá-los do buraco sagrado, transformando seus espíritos em matéria.
Os primeiros ancestrais trouxeram o nome Noke Ko’í, que significa “gente verdadeira”, e suas subdivisões clânicas de parentesco: Satanawa, Waninawa, Kamanawa, Nomanawa, Varinawa e Nainawa.
A trajetória histórica e a relação de vida dos Noke Ko’í estão diretamente relacionadas aos seus mundos. Na cosmovisão, os mundos são chamados de shava ipata.i, divididos em dia e noite e separados em três esferas cósmicas:
Nai shava: Significa o céu, onde mora Koka Kapnotxar (criador) e seu filho Pino hotxi.
Yama shava: Oposto ao céu, onde ficam os espíritos da doença, tristeza e de coisas ruins.
Vino shava: Onde moram os espíritos bons, que levam alegria e saúde.
Mai shava é o plano onde vivem os Noke Ko’í e outros povos indígenas e não indígenas da terra. Hene shava é o mundo das águas onde vivem os espíritos.
Suas existências ao tempo primordial da ruptura e passagem do Maroke ao mundo ou plano onde vivem, iniciou-se após a saída do buraco sagrado, quando os diversos clãs tiveram contato com Tarakawati, que significa “jacaré sagrado”, responsável pela passagem de parte deles pelo Rio Solimões, importante afluente do Rio Amazonas, passando por território peruano até chegarem no Vale do Juruá, Acre.
Este momento da história é considerado a primeira tragédia vivenciada pelo povo Noke Ko’i. Ao longo de sua trajetória, várias outras são recordadas em suas narrativas, incluindo o assassinato e a escravização do povo Noke Ko’i por caucheiros, peruanos e seringueiros brasileiros durante os séculos XIX e XX. Mais recentemente, a abertura e pavimentação da BR-364 têm sido responsáveis por várias mortes devido a doenças ou fatores externos, como acidentes de trânsito, em decorrência dos problemas deixados pela rodovia.
Este continuum de caminhadas e tragédias que os acompanham desde o tempo primordial até o momento atual, justifica a necessidade do fortalecimento cultural, social e econômico do Povo Noke Ko’i, tendo como estratégia a criação e estruturação da Associação Geral da Terra Indígena (AGPN), capaz e empoderada para orientar e promover a sustentabilidade, em todos os seus aspectos, para as futuras gerações dos Noke Ko’i.
A Associação Geral do Povo Noke Ko’í da Terra Indígena Campinas (AGPN), organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 16 de novembro de 2022, está localizada no município de Cruzeiro do Sul, BR-364, km 66, na antiga Aldeia Nova Olinda. Tem por objetivo principal, representar jurídica e administrativamente a TI, além de prestar apoio e orientação quanto aos destinos de todo o Povo Noke Ko’í. Conta com inúmeros associados, moradores das 11 aldeias existentes atualmente na TI.
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